Vinhos Rosé. O que são? Como se fazem?

Vamos tratar da coisa de forma simples e até com alguma da leviandade que me caracteriza.
Os vinhos rosé são uma grande bosta. Filhos menores dos deuses enológicos. Coisas manhosas. Águas russas. esgotos da lavagem de depósitos!
Esperavam que eu pensasse assim? Pois enganam-se!
Sou um fã destes vinhos, mas desde que não sejam feitos à bruta!
Ora, deixemos a legislação de parte assim como as permissões especiais e as misturas mais ou menos toleradas. Normalmente, o rosé é um vinho que resulta da fermentação de mosto exclusivamente proveniente de uvas tintas, recorrendo à tecnologia dos vinhos brancos. Grosso modo, podemos afirmar que existem dois tipos de rosé:

Sangria:
Imaginem um depósito que recebe uva para fazer vinho tinto. Já imaginaram? Óptimo. Agora pensem que houve uns espertalhões que resolveram retirar parte do líquido que se liberta facilmente pelo esmagamento da uva. O mosto de lágrima como diziam os antigos.
Ganha-se algo com isso? Sim, concentração final dos vinhos tintos, quer na cor, quer nos restantes componentes provenientes da película, já que a quantidade de líquido para diluir é menor. Esta coisa é tida por muitos como melhoria… não discuto!
Neste caso, o rosé é um sub produto. Fermenta com os parâmetros de um tinto (dai os 13 e 14 % álcool). Origina vinhos com algum desequilíbrio, já que a frescura terá de ser “induzida” (ah! Esta forma brilhante de falar da correcção ácida não é minha, mas como gostaria que fosse!) e vai com toda a certeza brigar com os aromas evoluídos da fruta, juntamente com um maior peso de boca. Vinhos mais cheios, gordurosos e mais facilmente perecíveis. Penso que a maior parte dos produtores não lhes dá a devida atenção e resolvem a questão deixando-os demasiado doces e vendendo a preço de saldo.
Já experimentei pôr coisas destas em barrica e posso garantir que o resultado foi muito bom (não conto aqui o fim, pois estou a guardar esta história para a secção memória). Mas aí… é mais um produto sério… mais um plano de marketing e comunicação…. Mais um problema! E problemas em stock já temos em demasia!

Rosé de Prensa:
Neste caso, costumo afirmar que pensamos as uvas tintas como se fossem brancas. O que quero dizer com isso? Os parâmetros ideias de vindima e o trabalho prévio, devem ser no sentido de favorecer: acidez alta, baixa concentração de açúcares, e aromas primários intensos de carácter verde (em oposição aos maduros).
O método de vinificação é mais ou menos como o dos brancos. No caso dos que faço, varia apenas em dois factores, tempo de contacto pelicular e rendimento na prensa. Aproveito muito pouco do que prenso e é por isso que não é incomum obter rendimentos que em pouco ultrapassam os 65%. Muito menos quando comparados com os 80% dos tintos e dos 75% dos brancos (valores médios, claro).
São vinhos com maior frescura natural e fruta condicente. % de Álcool mais baixa e maior ligeireza de aromas e corpo. Em oposição aos de sangria, gosto bastante do seu potencial de guarda.
Tendencialmente, prefiro os de prensa aos de sangria.
Provem de ambos e tentem perceber de quais gostam mais. Aviso já que não existe uma escolha acertada, mais correcta, moralmente mais aceitável. É provar! É experimentar. É, fundamentalmente deixar cair o preconceito face a estes vinhos.
Vá lá, desapareçam, vão lá beber um rosé!
Abraço

Comentários

Anónimo disse…
Muito bom, como sempre.

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Alemdovinho
Hugo Mendes disse…
Agradeço do fundo do coração.
Obrigado!
HM

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