O equilíbrio de poderes


Se há coisa que desde sempre me espanta, é o suposto medo da crítica que reina no espírito dos produtores, em especial dos de vinho vendido, que é como quem diz, no coração de quem tem no vinho, apenas um negócio.
Não entendi antes, não entendo agora e seguramente irei falhar ao entendimento no futuro, se ainda assim, esta fobia persistir enraizada no DNA do sector.
Poderia aqui dissertar sobre os males que o medo trouxe. Não o farei. É demasiado evidente. É demasiado decalcado das consequências de outros medos, dos quais, ao longo da História, se têm valido políticos e religiosos para obter controlo, domínio e influência. O medo leva as mentes disponíveis a serem rebanhos domados, obedientes e cegos.
Curiosamente, penso que o dito não terá sido imposto pela crítica. Foi, tão-somente por ela aproveitado. Resultou da fraqueza somada ao profundo desconhecimento do meio e do mercado. De formas deficientes de comunicação e do total abandono do controlo das marcas por parte dos produtores de vinho, “Em terra de cegos, quem tem olho é rei”, não é o que diz o popular adágio?
E não adianta esbracejar. Basta constatar que o vinho é o único meio que tem alguém com o poder de um Parker. Cito Elin McCoy na biografia intitulada The Emperor of Wine:
“Robert M. Parker, Jr., (…) is the most powerful wine critic in the world. But even more than that, right now he is the most powerful critic in any field, period.”
Mas, se não é falar mal dos críticos que quero com esta massada, o que é?
Somente afirmar a constatação de La Palisse:  Com a internet (outra vez a internet. Sempre o raio da internet,…) o produtor ganha uns novo poderes. Entre eles, o de criticar o crítico.
O quê? Criticar o crítico?
Sim. Quantos de vós (agora só para produtores, está bem?) já andaram pelos corredores do palácio a comentar a acção deste ou daquele crítico. Sempre em silêncio, sempre com alguém da vossa confiança, para que a coisa não lhe chegue aos ouvidos e o bendito não vos dê cabo do trabalhinho!
No limite, poderão agora fazê-lo em publico e com poder de calar o malfadado, a internet dá-vos voz para isso.
Se eu afirmar que fulano tal é uma fraude por este e aquele motivo (e se os há!), que poder tem ele contra mim, se essa mensagem for lida por tantos quantos lhe darão espaço para vomitar baboseiras?
O que ganhamos com isso? Não é evidente? Livramo-nos das fraudes, fortalecemos os verdadeiros críticos e seremos todos muito melhor informados? Não se trata de acabar com o “dark side”, mas sim “bring balance to the force”.
Mas isso é assim tão necessário?
Os mais afoitos de vós, aqueles que já por aqui andam há algum tempo, rir-se-ão das minhas palavras e dirão: Para quê criar conflitos? O grande poder da internet será mesmo esse de criticar o crítico?
 Definitivamente…. Não!
O verdadeiro poder que a internet dá ao produtor é, …..
 Rufos……….
O de não precisar do crítico para nada!
Mas isso, vocês já sabiam, certo?

Comentários

Anónimo disse…
Excelente reflexión Hugo, sobre la democratizacion de las opiniones y los foros que nos proporciona internet.

Javier López Lorenzo.
Sommelier.
Hugo Mendes disse…
Caro Javier, muito obrigado pelo seu comentário!

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