Adiafa 2021

 

Recebemos hoje as ultimas uvas da vindima 2021.

Não vos vou dizer que foi uma vindima difícil, nem vos quero convencer que foi fácil. Como todas as outras, teve as suas idiossincrasias, dificuldades, contrariedades... mas... não é sobre isto que vos venho aqui falar hoje.

Em 2016 demos inicio a esta "loucura" com apenas 2,6 toneladas de uva que originaram 2300 garrafas para uma única referência. Passados 5 anos, fechámos a 6ª vindima com cerca de 32 toneladas de uva em três regiões (duas e um bocadinho para ser mais correto! 😆) que originarão cerca de 28 000 garrafas e mais de 10 referências.

Olhando para estes números, sinto um orgulho enorme, não só no trabalho realizado, mas também em todos que me ajudaram a fazer prova da veracidade das premissas com que arrancámos. A saber:

1) Aposta, em exclusivo, nas castas nacionais. Tem-se provado ser uma das mais valias deste projeto. Isto é uma realidade clara no mercado nacional e a razão pela qual temos um  cada vez maior mercado internacional.

2) Aposta nas regiões de Lisboa e Tejo. O nosso sucesso não vem do facto dos nossos vinhos se parecerem com Bordéus, Napa Valley, Borgonha ou Marlborough. O sucesso e o interesse tem vindo do facto dos vinhos expressarem a nossa interpretação das castas tal como se comportam na região. Assumimos e exibimos orgulhosamente as regiões de origem.

3) Aposta no consumidor final. Como primeiro cliente nacional, embora traga muitas dificuldades logísticas (ainda não inteiramente ultrapassadas) , continua a ser o coração deste projeto e o seu elemento mais diferenciador.

4) O produtor será sempre o melhor evangelista do seu vinho. Julgo que nem preciso explicar, certo?

Hoje sinto-me vaidoso, orgulhoso, grato e confiante. Vaidoso porque sinto que tenho uma marca com raiz, reconhecida pela qualidade dos os vinhos e não tanto pelas palhaçadas e malabarismos que vou fazendo nas redes sociais. Orgulhoso porque tudo isto é conquistado da pedra, sem atenção comprada ou valorização onerosa. Grato porque, ao contrário do estabelecido e comummente aceite, é uma marca feita do consumidor para o distribuidor e isto só é possível graças ao empenho, claro está... de quem compra e consome o vinho. Confiante porque acredito que tudo isto são boas fundações para crescer de forma saudável e sustentada.

Mas também já não basta ter um produto que o consumidor reconhece, apoia, quer e procura. Ter bons parceiros profissionais (distribuidores, importadores e retalhistas) é, na fase em que nos encontramos, de uma importância crucial pois são eles quem tem a capacidade de expandir o conhecimento e dar resposta à procura dos vinhos. São cada vez mais e sinto que tenho uma boa porção dos melhores que trabalham no mercado. Também pelo seu interesse e empenho sou muito grato.

No final do dia, nada disto acontece sem boas uvas e no meu caso, sem adega. Ninguém imagina o que é ter-me como comprador de uva e "ocupante" de adega. A janela mega reduzida que dou para a colheita da uva, as desmultiplicações de volumes em adega, os ensaios, as operações e suas especificidades, a escolha das formas mais trabalhosas para se conseguir um conjunto cada vez maior de referências, todas elas com exigências especificas e diferentes.

Tenho a sorte de ter, tanto em quem me vende uva como nos staffs das adegas gente paciente, profissional e amiga que me atura, se entusiasma e se dispõe a mais um clique ou dois de esforço e sofrimento para que as coisas saiam como eu procuro, mesmo que isso contrarie, muitas vezes, a sua forma de fazer vinho. Já estive no lugar deles, e posso garantir que nunca foi fácil ceder, na "minha casa", à vontade de outrem.

Por tudo isto peço que me perdoem, todos vocês que me têm ajudado tanto (patronos à cabeça) e de formas tão variadas, por dedicar o sucesso dos vinhos desta vindima a esta gente quase anónima que garante a qualidade da uva e dos vinhos. Sem eles não conseguiria nada e sem nada não haveria sucesso.

Sem merdas e sem favores, são vocês os verdadeiros magos destas poções, os artifices do nosso sucesso. 

Muito e muito obrigado.