Prémios "os melhores do ano 2017" para a Revista de Vinhos


Foi a minha primeira gala (...festa ou lá o que é!) organizada pela  Essência do Vinho. Assim, de um ponto de vista macro, não estava diferente de outras a que fui quando eram organizadas pela equipa precedente.

É sempre um prazer reencontrar os nossos colegas, os nossos mentores e os nossos gurus. Tenho gosto em assistir ao desfile de vaidades. Muito gosta a malta do vinho de se apresentar com pompa, circunstância e sobranceria. O mais incauto transeunte juraria que no sector abunda dinheiro, elegância e polidez. Sou a prova de que isso não é bem assim!

Uma boa nota para o jantar. A equipa de sala foi simpática e muito prestável. O serviço algo lento para uma ementa bem confeccionada  mas sem grandes quejandos. É um facto que não estávamos ali pela comida e também sei que o serviço a tanta gente,..., blá, blá , blá! No geral gostei.

O momento mais feliz da  noite claro, foi o facto do nosso vinho ter merecido figurar no guia dos que mais se realçaram durante o ano. Nada de palco nem discursos, apenas a menção na edição de Fevereiro. Foi bom, deixou-me contente.



Entrando nos prémios propriamente ditos, bom, nada tenho a dizer sobre a escolha dos vinhos com direito às menções superiores. É sempre uma escolha objectivamente subjectiva. Pessoalmente meteria ali outros e retirava de lá alguns. Mas é por isso que aquilo é a escolha do painel da Revista de Vinhos e não a minha. Aceito e sigo em frente.

O ano foi para a Sogrape Nuns prémios entendi, noutros nem tanto. Por exemplo, era mesmo necessário repetir o prémio de melhor enólogo do ano a  Luís Sottomayor ao fim de ter passado tão pouco tempo desde que o recebeu pela ultima vez? Talvez...
Também não entendi o prémio personalidade do ano no Brasil, que por acaso é um empresário que investe em Portugal? E porquê Brasil e não outro pais qualquer? Parece-me confuso.

Ora bem. Houve duas categorias que me deixaram bem desconfortável na cadeira, confesso. A de "enólogo revelação" e a de "produtor revelação".
Tenho para mim que os prémios revelação se entregam a pessoas ou projectos que se destacam apesar da sua actividade recente (nos enólogos até aceito que seja apenas recente a actuação como sénior) com uma mensagem clara: "Estás a fazer um belo trabalho rapaz, mostra-nos lá consistência e passas para o nível dos homens!"*
Sinto muita justiça nesta divisão. No mundo do vinho, a idade deve ser um posto!
Nomear Diogo Lopes, Joana Pinhão e em especial Pedro Pereira Gonçalves como Enólogos Revelação é no mínimo desconfortável (Não conheço o percurso do vencedor, ele que me perdoe!). Eu não iria ficar contente com uma nomeação destas. Ou estava ao nível dos "adultos!" ou não estava. Ponto. Imaginem o caricato, pelo menos o Pedro Gonçalves que já era sénior em Vale d'Algares quando a empresa ganhou o prémio revelação, há uns 8 ou 9 anos.
Igual situação se passou em relação ao produtor revelação. Qualquer deles já cá anda há muito tempo para não fazer parte do campeonato dos crescidos. Fica a sensação que ninguém tem andado a reparar no trabalho deles. O que pode até ser verdade, mas que não creio!


Já sei o que estão a pensar. Fiquei lixado por não ter sido, pelo menos, nomeado. Bem, se me perguntam, devo responder que teria tido gosto em ser nomeado para produtor revelação, e julgo que isso não seria descabido ou escandaloso, mas aceito que, aparte da presunção de mérito, ainda possa ser visto como cedo e muito arriscado apostar as fichas num projecto que fez ruptura com o circuito tradicional e que depende fundamentalmente dos consumidores para dar certo (o prémio seria mais para eles que para mim, é um facto.). A julgar pela pool de nomeados, corremos o sério risco de ser nomeados lá para 2028. 

De resto, fiquei muito feliz pelo prémio à Enoteca de Belém, em especial porque nutro um profundo respeito, amizade e admiração pelo Nelson Guerreiro. Pelo que vejo, o trabalho ali dignifica muito o serviço e os vinhos Portugueses. 
Noto ainda com alguma satisfação que a equipa da revista está a ser ampliada pela lado da inclusão de Escanções. Julgo que é hora de dar a estes profissionais o espaço e a responsabilidade que é deles por direito. Muitos parabéns por isso!

Um dos momentos altos da noite foi o prémio "personalidade do ano gastronomia" ao cozinheiro  Ljubomir Stanisic. O que parecia tratar-se de uma elevada excentricidade revelou-se numa tremenda falta de vocabulário, principalmente nos adjectivos emocionais. A subida ao palco em personagem e o enorme "FODA-SE" de braços abertos, só foi temperada pelas taquicardias simultâneas de Vasco Avillez, que aguardava para lhe entregar o prémio, uma frigideira que tinha todo o ar de ser pesada. Por momentos vi-o olhar para a cena com aquele olhar de que mais facilmente lhe daria com a sertã na cabeça do que lha passaria para as mãos.
Pela qualidade do espectáculo e imperdoável falta de fogo de artificio que abrilhantasse o momento, aplaudiria com gosto. Seria bonito e inesquecível!


Foto gentilmente cedida por Paulo Pimenta.

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*Não tem a ver com a idade nem género das pessoas mas com a idade, regularidade e consistência do trabalho.

Comentários

Anónimo disse…
Bela crónica, sim senhor.
Essa é a parte política da coisa, a que menos interessa, com regras e regulamentos confusos que por momentos, até nos fazem suspender o interesse pelo Vinho.

Mas como referiste e muito bem, esta coisa dos prémios é objectivamente subjectiva.
Cheira a despeito quando alguém que não é premiado diz ou escreve isso, mas é a verdade.

Deixem as pessoas fazerem o que melhor sabem e deixem a política para os políticos.

Até porque a visibilidade que ilusoriamente nestes eventos se obtém, raramente (digo eu) se traduz em retornos substantivos e concretos.

São mais massagens ao ego, que a malta tanto gosta...
E há tantos/as que vivem disso e para isso...
Hugo Mendes disse…
Seja qual for o modelo, as escolhas nunca serão consensuais. Até porque não ganhei nada, logo, o que digo pode sempre ser visto aos olhos desse hipotético despeito. Mas aceito o risco de bom grado.

È claro que todos os prémios são objectivamente subjectivos (até o das amadas provas cegas). Os vencedores estão sujeitos ao enquadramento nas diferentes matrizes. Todos as temos, os painéis das revistas neste caso também as terão.

Eu gosto de massagens no ego, especialmente quando acho que são merecidas. Não me fazem tomar decisões, mas dão-me força para continuar.

Fundamentalmente há uma liberdade que gosto muito de exercer. Tenho o direito de participar (com envio de vinhos) ou não e tenho a liberdade de gerir os resultados que obtenho. Objectivamente é pouco mais que isso.
Gosto do convívio com os colegas de profissão também!

Nos meus tempos de inocência, julgava que o Prémio Nobel era o unico prémio verdadeiramente meritório que havia no mundo e por isso era o prémio que ambicionava ganhar! Já percebi que até esse está cheio de tricas e enredos portanto... o meu prémio é o vinho vendido e os clientes satisfeitos. O resto é apenas o que diz/dizes (não sei quem é!), massagens no ego! Têm algum mal se não tivermos de vender a alma por eles?
Abraço e muito obrigado! :)
HM

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