O efeito Tampão


Quimicamente, trata-se de um equilíbrio (pH) que não é muito afectado pela adição de moléculas “destabilizadoras”, sempre que esta for feita em quantidades “controladas”.
É obvio que a coisa é muito mais complexa que isto, mas, serve a anterior frase para explicar porque chamo efeito tampão a um fenómeno que tenho observado desde sempre na sociedade lusa em especial, nas esferas mais reduzidas e especializadas como são o mundo do vinho. Em muita coisa me faz lembrar este princípio químico!
Socialmente, o que é?
1º Tampão directo:Consiste no silêncio que certos temas despertam. Na falta de resposta. Na ausência de discussão, principalmente quando se trata de apontar o dedo a alguém ou a algo! De criar discussões que no limite podem provocar uma mudança de atitude!
Normalmente, quem é afectado, não discute e quem poderia ganhar com a discussão, também não! E pronto, cala-se tudo em on. Mas em off continuamos todos a queixarmo-nos da vida e que “ninguém” faz nada para mudar as situações escandalosas! Mas quando é chegada a hora de piar, assobiamos e viramos a cara para o lado!
Dou um exemplo, só para concretizar! Muitos mais haveria, este sai somente porque me meti ao barulho e recolhi directamente algum feedback!
Se não me falha a memória, em Novembro ou Dezembro passado, no espaço de opinião reservado ao João Paulo Martins, o autor decidiu falar sobre Enólogos Consultores. Tirando o primeiro terço do texto, discordei em absoluto com o resto. Mais, senti-me revoltado com ele, pois na minha opinião, ele tinha perdido uma belíssima oportunidade de expor uma realidade que em alguns casos, eu, considerava vergonhosa, escandalosa e obscena! (as razões não interessam agora para aqui!).
Resolvi escrever a minha visão da coisa e publiquei-a no meu blog, ao mesmo tempo que a enviei à revista de vinhos (http://wizardapprentice.blogspot.com/2008/12/enlogos-consultores.html). Para tornar a coisa mais credível e honesta, deixei de assinar o blog como Wizarap e passei para Hugo Mendes. Assim, todos saberiam quem era o emissor da opinião!
Quando o Luís Lopes Ramos me disse que a carta ia ser publicada na revista (espaço do leitor de Março, acho eu!). Achei que a liça ia começar: medo, ansiedade, revisão dos argumentos, preparação para o embate, mas… nada! Nem uma resposta foi publicada até hoje, nem um comentário li sobre o assunto, contra ou a favor, ali ou noutro lado qualquer! Aparentemente, não aconteceu nada!
O silêncio nada nos diz e o tampão só favorece quem tem a perder com a mudança! Mas como aparentemente era o único “incomodado” com a situação, ninguém teve necessidade de expor argumentos! Não houve necessidade de discussão, ponto!
Bem, isto em on… porque em off, posso-vos garantir que durante 6 meses não fui a lado nenhum de cariz vínico que não me abordassem a falar na bendita carta, uns a favor, outros mais ou menos, … quem poderia estar contra, não me deu importância nenhuma (e acho que fizeram muito bem!)
E a história morreu!
2ª Tampão Indirecto:Constato que os novos veículos de informação estão a ser utilizados de uma forma que não acrescenta valor ao que já existe. Nos blogs, facebook, twitter e afins, não aprendemos nada de novo, não temos opiniões frescas. Para além de provas de vinho (que já tinha-mos nas revistas, guias e sites oficiais!), ficamos a conhecer pouco mais que os gostos musicais de cada um. São novas formas de fazer… silêncio!
Para piorar, vivem-se experiências de verdadeiro autismo. Eu posto, mas não comento os post dos outros e, não reparo que ninguém comenta os meus! Vou ler, mas não comento! Não falo, sou um fantasma! Passo por lá, mas não digo que estive aqui! (Nunca se sabe quando este vai cair em desgraça e depois a situação fica no mínimo incómoda para a minha infalibilidade!)
Nos fóruns pouco mais à frente vamos: quando o tema é delicado e fracturante, uns postam, dois ou três comentam e o resto lê e fica sentado á espera que o sangue corra! Não há contributo nem participação!
Isto, na minha opinião, são as formas actuais do efeito tampão associado aos vinhos! O malefício que lhe vejo é mais que evidente, não?

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