Prova dos 3 – Parte II

Tal como referido no post anterior, lançou-se o desafio aos provadores para avaliarem um mesmo vinho segundo 3 metodologias distintas. Importa reforçar que se está a tentar testar algo e não a provar nada. Há muito que estou convencido que uma apreciação baseada na recomendação ou na relação custo/benefício é de muito mais fácil entendimento para o comum consumidor (é por isso que acho a ideia do rating no site Adegga, simplesmente genial). Acredito, ao contrário do que se diz, que esse consumidor quer recomendações (todos gostamos delas). Não quer é saber de framboesas, de confitados ou de balsâmicos, muito menos de enquadramentos de notas. Quer uma recomendação simples, directa e legível. Ponto.
Bom, regressemos ao ensaio. Pediu-se que pontuassem cada vinho nas 3 escalas. Na tabela 1 encontram-se os resultados.No campo Nota encontram-se os valores convertidos directamente da escala pessoal. Não foram tidas em conta as modificações intrínsecas a cada provador. Calculou-se para uma equivalência entre 1-10, para poder comparar com as outras escalas. A título de exemplo: um vinho com uma avaliação de 14 valores em 20 possíveis, passa a ter 7 na escala de satisfação que tem 10 como máximo. A tabela contém, para cada amostra e para cada escala, a média das notas dos provadores, tendo em conta a norma do OIV (penso não haver engano na origem) em que se retira a nota mais alta e a mais baixa para cada vinho.  No decorrer da prova, confirmou-se depois no tratamento dos dados, que não há coerência quando se rejeita um vinho. Para os provadores presentes, dar 5 ou 8 a um vinho que rejeitam é a mesma coisa. Retiraram-se, pelo motivo descrito, do tratamento de dados, os vinhos que obtiveram pontuações negativas.
Compararam-se as 3 escalas calculando o desvio Padrão (DesvP) para cada uma das amostras a fim de perceber como variam entre si. Depois calcularam-se as médias de valores de cada método de avaliação para ter uma forma de comparação mais generalista. Convém, no entanto, referir que todos os valores estão arredondados, sem casas decimais.


Tabela 1: Comparação entre os valores médios adquiridos nas diferentes escalas para cada amostra de vinho. Calculo realizado após retirada da nota mais alta e da mais baixa para cada vinho. Nota- Avaliação segundo os padrões e escalas individuais convertidas à escala de 10. RQP – Relação qualidade/preço. Relação na escala de 10 entre o preço e a qualidade do vinho. ERA – Escala de Recomendação a um amigo. Na escala de 10 quanto vale a recomendação do vinho provado?



Conclusões:
A comparação dos resultados (vinho a vinho) mostra que houve pouca variação considerável entre as diferentes escalas utilizadas. Há contudo, no calculo das médias uma diferença de 2 valores entre a escala comummente utilizada por cada um (Nota) – 7 - e as escalas introduzidas (RQP e ERA) - 5. Considero que esta diferença merece atenção redobrada em testes futuros, pois pode ter várias interpretações. Por agora considerá-la-ei menor. Fruto de uma inadaptação dos provadores a escalas mais reduzidas. Da má interiorização dos conceitos das “novas” escalas e da necessidade de refinar a forma como os dados são criados.
Contudo, inclino-me mais para a hipótese de que os provadores não tenham conseguido apreciar o mesmo vinho recorrendo a diferentes critérios, limitando-se a inconscientemente reproduzir a conversão da nota para uma escala diferente.
Os resultados não são conclusivos. São escassos e contemplam poucas variáveis. No entanto deixam-me a vontade de continuar a testar a hipótese da escala de recomendação, seja com provadores/avaliadores, seja com consumidores.
Se alguém quiser os dados originais para refazer estes cálculos, terei todo o gosto em enviar-lhe o ficheiro.

Fecho o assunto, por agora, com um agradecimento especial ao Pingus Vínicos, que teve a amabilidade de ler os textos dos 2 post à procura de incongruências matemáticas.








Comentários

Unknown disse…
Na minha opinião (e de acordo com a maneira como dou as pontuações) acho que a diferença entre a nota e a ERA se deve mais ao objectivo da escala.

Enquanto na nota dou a minha apreciação pessoal na escala ERA procuro mais avaliar o que acho seremos gostos dos meus amigos e qual seria a aceitação deles para o vinho. Com base nisso decido se o recomendo o não.

Acaba por ser diferente do meu gosto pessoal, procurando talvez na escala ERA interpretar o que são as preferências dos consumidores em geral (ou pelo menos a maneira como as percebo).
Hugo Mendes disse…
Obrigado Diogo pelo comentário.
Eu percebo o que dizes e penso que cometi alguns erros a explicar a escala. Isso que dizes é algo a ter em conta em testes futuros.
(irei usar-te como cobaia novamente! ; ))
Abraço e Obrigado.
Não me cabe a mim interpretar o que são os gostos dos consumidores, teria de o fazer se fosse produtor preocupado com as vendas...

No meu caso a minha recomendação é sempre de acordo com o meu gosto pessoal, não consigo recomendar um vinho que não gosto.
Unknown disse…
Por consumidores queria dizer amigos.

Em todo o caso há vinhos que gosto bastante mas sei que o consumidor em geral (isto é, a maioria dos consumidores) não aprecia aquele tipo de vinho.

Quando se recomenda um vinho desses isso deve ser tido em conta ou corremos o risco de enquanto influenciadores de opinião de perder a credibilidade e o respeito de quem nos segue.
Hugo Mendes disse…
Diogo,
Reli o primeiro comentário e confesso que só agora o entendi. Percebo o que dizes, mas não creio que a diferença esteja aí. Penso que é mesmo uma questão de números e da forma como são transpostos. Caso contrário quereria mesmo dizer que sobreavaliamos os vinhos nas nossas escalas pessoais e depois quando estamos a recomendar é com mais calma. Confirma, a meu ver a validade da sua utilização! Mas penso mesmo que os dados são insuficientes para conclusões válidas.
João,
Peço-te que tenhas sobre este assunto uma visão mais alargada. Não interessa o que eu, individualmente quero, ou tu, ou seja lá quem for. O que interessa, pelo menos para esta apreciação é que existe um conjunto, que só por acaso é a maioria, de consumidores que não quer saber das tuas recomendações, da das revistas ou das de quem quer que seja. Mas quer ser aconselhado. O que são coisas diferentes. Uma coisa não invalida ou substitui a outra.
No mais, sabes que não concordo com essa abordagem umbilical, já a discutimos até à exaustão, não vale, quanto a mim, a pena desgastarmo-nos mais com isso.
Diogo cabe a quem recomenda saber entender quem tem do outro lado, de outra forma sim perde-se credibilidade e respeito.


Hugo o consumidor geral não quer ser aconselhado, essa larga maioria é aquela que esgota os Monte Velho, Convento da Vila e Porta da Ravessa nas prateleiras das grandes superfícies... e essa larga maioria não se importa com guias, blogs ou o que seja, compram sempre igual da mesma maneira ano atrás de ano. Os que querem ser aconselhados são os consumidores que visitam garrafeiras, blogs, compram revistas e compram guias...
Nuno disse…
Caros colegas, eu também só aconselho aquilo que acho que vale aconselhar, e isso vai do meu gosto pessoal. Se eu não gosto não posso estar a aconselhar.
Hugo Mendes disse…
João,
Sabes que não acredito nisso, por isso vou continuar a procurar uma forma válida do fazer.
Conto, apesar da tua posição, com a tua ajuda para o conseguir.
Nuno,
È pouco relevante a forma como aconselhas. Tu, eu ou seja lá quem for. Aqui o que importa é somente saber se há ou não forma de influenciar o consumo à dita quantidade de consumidores que estão sem aconselhamento. Uns dizem que é porque eles não o querem, eu digo que é porque ninguém encontrou ainda a forma correcta de o fazer. Uma coisa sabe. Não são sensíveis a guias, notas em escalas esquisitas, revistas temáticas ou descrições de prova. O resto é testar, errar e aprender.
Se queres saber o facto de tu e o João afirmarem que só aconselham vinhos que gostam até é uma vantagem para o “meu ensaio”.
Usarei os 2! Lol!

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