My International Wine Chalange 2012




Desculpem-me, mas sinto uma enorme necessidade de divagar um bocadinho, se não quiserem esperar, passem directamente para o paragrafo que inicia com as letras verdes.
Londres é aquela cidade que, por mais vezes que lá volte me continuará a motivar sensações controversas. Se por um lado tem aquela aura inglesa das coisas arrumadas nas caixinhas, da tradição, sentido conservador… tem também aspectos que me fazem pensar que esta gente não está muito virada para a organização e prestação de bons serviços.
Primeiro, o sistema de estrelas nos alojamentos é qualquer coisa para rir. Sinceramente, um hotel de 3 estrelas pode oscilar entre o razoável, limpo e com boas instalações, até uma espelunca que, em Portugal, seria chamada de pensão, instalada naquelas zonas chave de Lisboa em que a taxa média de ocupação não ultrapassa as duas horas.
Depois temos aquela coisa do metro, aquela frase genial “mind the gap” que virou uma assinatura da cidade mas que, proporciona momentos de franca admiração a todo o Tuga mais distraído, habituado a reclamar por tudo e também por nada, que, mal visse um espaço igual ou superior a uma mão travessa entre a plataforma e o comboio, logo chamaria a policia, a asae que juntos isolariam a área para prolongadas investigações e obras. No tube, a única coisa que nunca temos a certeza é se o tal gap é horizontal ou vertical e neste, se em alto relevo ou baixo. O que temos a certeza, isso sim, é que, se existe, supera o palmo e meio, caso contrário não merece atenção.
Não me vou daqui sem relatar a minha visita a uma loja giríssima de brinquedos (Hamleys) que fica na Regent Street. O meu filho pediu-me que lhe levasse um presente com umas certas especificidades e achei que lá poderia encontra-lo. A loja é um enorme armazém muito mal amanhado. Tem uns 4 pisos e em todos eles, quando olhamos para cima temos a impressão de olhar para algo esventrado onde o emaralhado de tubos e canos se encontra disfarçado apenas aqui e ali pelas teias das aranhas residentes. Para ajudar à festa, tinha um piso inteiramente vazio, com obras a decorrer. A separar os clientes da obra, nem a vergonha do operário que, como lhe compete, estava concentrado a acertar as doses de água no cimento. Uma loja de brinquedos. Como seria por cá? Deixem-me imaginar. A loja obrigada a fechar durante o tempo necessário... os oficiais atrasos…. Falência, pois claro!
Nada disto tem a ver com o concurso eu sei, mas por vezes é preciso conhecermos o exagero dos outros num determinado sentido para entendermos melhor os nossos no sentido  oposto.
Adoro Londres…. Até por isto!


Já vos fiz perde demasiado tempo, vamos directos ao que interessa. Basicamente, a coisa dá-se assim:
Cada mesa tem um presidente, um júri sénior, um número variável de júris e outro numero variável de júris associados. Pensem nisto como escalões entre os júris que variam consoante o seu grau de iniciação ao concurso. O peso da sua avaliação está também, em teoria relativizado por estas designações. Acho justo.
O sistema é algo intrincado e nem sei ao certo se percebi muito bem certos promenores. Tal como noutros concursos onde tenho participado, existem sempre, pelo menos duas mesas a provar os vinhos e os resultados são analisados ainda por um painel que opera numa sala contigua mas cuja formação desconheço, não porque seja secreta, mas porque não perguntei. Em todo o caso, fiquem com a ideia de que cada medalha é devidamente justificada e avaliada por diferentes tipos de painel de forma a dar consistência aos resultados.
Depois, não há cadeiras, nem computadores nem intervalo para bolinhos. Cada grupo tem duas mesas. Prova numa enquanto a equipa de apoio prepara a outra. Vai  alternando as mesas à mediada que as vai completando. Provam-se conjuntos de numero variável, avalia-se todo o conjunto e discute-se no final, depois da atribuição das avaliações particulares.
Algo eu considero uma mais valia para os provadores e também para os vinhos, é o facto de se saber sempre o que se está a provar: Casta, região, pais, ano e quantidade de açucar. É muito mais justo para identificar peculiaridades regionais. É muito mais útil ao provador que se desloca a Londres para esta autêntica formação sobre vinhos do mundo.
Nos dias em que provei, começámos de manhã, paramos para almoço e continuamos pela tarde até à hora do chá (substituído no nosso caso por belas cervejas inglesas). Não há cá de manhã é que se prova, não há cá espumantes-brancos-tintos. É vinhos para cima da mesa ao ritmo da prova, abordagem séria, profissional e respeitosa para com os produtores e… toca a trabalhar.
Só no primeiro dia, provei cerca de 100 vinhos diferentes, sem espinhas, sem sentir que fui menos competente com os últimos do que com os primeiros, sem me melindrar com o facto de intercalar brancos e tinto. Apenas me queixei da boca mal cheguei ao hotel. As gengivas doíam e os dentes pareciam feitos de vidro.
Provei dois dias e tenho para vos dizer que conheci pessoas fantásticas, para além de ter tido a oportunidade de “viajar” por muitos locais deste mundo vínico.
Deixo uma nota aos produtores. Mandem os vossos enólogos a este tipo de concursos. É uma formação indispensável que vos sai relativamente barata.
Deixo outra nota aos enólogos cujos produtores não os mandam a este tipo de concursos. Tomem a iniciativa e vão por vossa conta. Se fizerem marcações com antecedência a coisa não sai cara, e o conhecimento que adquirem é fabuloso. 

Para memória futura, deixo apenas os nomes dos meus colegas de mesa nos dois dias que provei:

Dia 23: mesa 9
Jamie Good, Anthony Mitchell, Nick Brierley, Charles-Emmanuel Girard

Dia 24: mesa 24
A todos o meu muito obrigado, foi muito prazeroso provar ao lado de todos eles.



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