Hugo Mendes 2018 - A uva e o resto



Digam o que disserem, este vai ser um ano trágico na produção de uvas em Portugal. Um ano sem primavera, doenças várias e uma onda de calor que vindimou vinhas inteiras.
Deste ponto de vista, é o pior ano que me lembro desde que trabalho no sector há uns quase 13 anos, foi só somar merdas.Tenho grandes quebras nos meus produtores, a região de Lisboa foi severamente afectada, principalmente pelo calor.

Imaginam pois, qual não foi a minha aflição quando me apercebi das desgraças provocadas por aqueles dias dantescos. Corri literalmente para as vinhas de onde vem o Hugo Mendes e para meu espanto, os talhões a mim destinados foram dos menos afectados, mesmo que algumas tintas ao lado tenham sido apanhadas em cheio pelos ventos infernais. Para terem uma noção, estas vinhas apresentam um cenário que cria desconforto até ao mais distraído. As vinhas no Hades não devem ter outro aspecto. As plantas continuam vivas, as folhagem verdes e vigorosas mas os cachos estão secos como cadáveres sem vestígio de fluidos, como que a querer martirizar a nossa memória com a imagem de outrora, quando foram belas esperanças de um bom ano.

Hoje voltei à Quinta do Carneiro para acompanhar a evolução, para perceber como tinham as plantas reagido ao extremo calor e gostei do que vi. A maturação decorre lenta, mas certeira, senti homogeneidade na prova de bagos, o que especialmente no Fernão Pires não costuma ser regra desde que acompanho estas vinhas. A acidez está alta (lembrem-se que marco vindima tendo em conta apenas este parâmetro) e os níveis de álcool provável estão baixos também, mas perto o suficiente para levar à vante a minha vontade de co-fermentar as duas castas (lembram-se que foi isso que fiz no 2017 e é por isso que elas estão tão bem integradas).

Fernão Pires
No refratómetro o Fernão Pires apresenta uma média de álcool provável a rondar os 7-8% e o Arinto a rondar os 6-7%. Não sinto grandes desequilíbrios dados pela desidratação. A sensação acidula parece estar conforme com o álcool apresentado.
Para o inicio da próxima semana já termos análises mais concretas para começara  delinear.




Arinto
Quero deixar-vos um cheirinho de uma ideia que ainda não sei se vou conseguir concretizar. Estou embeiçado por uma outra uva, de uma terceira casta que quero muito fermentar à parte e tentar perceber depois se se enquadra no lote ou se se engarrafa sozinha. Vai depender apenas da existência de espaço para a vinificar.
Estou tão espectaste que quase, quase vos disse qual é.
Mas contive-me a tempo.
Vá lá... não costuma ser assim! 😂😆😈


Arinto

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