"Explica lá isso de ser patrono".


- Espera... Explica lá melhor isso do patrono... não estou a perceber nada!
- Então, se calhar, é melhor começar de inicio.

- Começa por onde quiseres.
- Muito bem. Como sabes, o primeiro vinho deste projeto é da colheita de 2016.

- Sim... 
- Nessa altura, tal como agora, o dinheiro era pouco, mas a vontade era imensa e decidi avançar... como tenho feito nalgumas coisas da minha vida... acreditei e fui. A ideia era a de que, no caminho, haveria de arranjar solução, na pior das hipóteses venderia o vinho e pagaria as contas.

- Sério que pensaste fazer isso?
- Pensar não pensei, mas era um plano z para o caso das coisas darem para o torto. Muitas vezes não tenho um plano b, mas tenho quase sempre um plano z. Aliás... julgo que é precisamente esse exercício que me ajuda a tomar a decisão de avançar!

- Certo... é muito inteligente... mas não te percas... Patrono!?
- Ah... certo 😅! Quando chegou a hora de engarrafar, dinheiro não havia e não tinha a quem recorrer para pedir emprestado, por isso pensei melhor numa ideia que o André Ribeirinho me tinha plantado na cabeça havia uns anos. A de vender parte da produção, diretamente ao consumidor, usando a rede de "influência" e toda a credibilidade que fui construindo ao longo dos anos com os outros vinhos que ajudei a fazer. 

- Ah, não sabia disso.

- Foi..

- E depois?
- Depois fiz umas contas e percebi que conseguiria pagar tudo se vendesse 800 garrafas.

- Tipo venda em primeur?
- Sim, por ai. De facto foi mais um crowdfunding já que se tratava de um produto que ninguém conhecia ainda. Não havia ainda um "valor de marca" para além de alguma credibilidade que os meus trabalhos anteriores pudessem adicionar.

- Eh pá fantástico... e conseguiste?
- Foi uma experiência muito enriquecedora, no plano empresarial mas sobretudo no plano emocional. Aconteceram muitas coisas que não estava à espera.

- Tais como?
- Sobretudo pessoas que fizeram questão de me apoiar, muitas delas com parcas capacidades financeiras. Perceberam a importância que o sucesso daquilo teria para mim e para o mundo do vinho, creio.
Mas também o facto de pouco depois de ter iniciado a "venda" aquilo me ter saído das mãos, os primeiros compradores tomaram o desafio para si e fizeram o que puderam para me fazer chegar novos interessados. Tantos que me chegaram com esta frase "sou amigo do Fulado De Tal e ele diz que tenho de te comprar um vinho muito bom [mas que ninguém tinha provado ainda] que estás a vender". Foi algo enorme... muitos deles, quase no fim do tempo proposto até voltaram a repetir a compra para garantir que atingíamos o numero mágico.

- Mas conseguiste? Diz-me que conseguiste!
- Conseguimos. Acabamos com 877, o ultimo dia foi uma loucura, mas conseguimos.

- Que história bonita pá... Mas... olha lá... o que tem isso a ver com os patronos?
- Todos os clientes que fizeram parte dessa pré venda passei a chama-los de Patronos e prometi-lhes regalias vitalícias.

- Que tipo de regalias.
- Preços especiais, vinhos exclusivos, pré-vendas exclusivas... por enquanto. Mas haverá mais no futuro.

- Mas então... é um grupo fechado então, ninguém mais entra. É isso?
- Não. No ano seguinte, alguns elementos do grupo de patronos fundadores desafiaram-me para repetir a graça. Confesso que hesitei... Tive algum receio de transformar uma história bonita de sucesso num fracasso constrangedor, como aquela sequela fatela que não adiciona nada e que nada mais consegue do que sugar o brilho ao sucesso do filme original. 

- Resultou?
- Sim, para meu espanto... resultou muito bem! Tem resultado muito bem. Para ser franco, cada vez resulta melhor. Os vinhos esgotam facilmente em questão de dias, às vezes horas e os números totais de vinhos vendidos assim aumentam todos os anos.

- Ok já percebi. Nessa altura deixas que entrem novos patronos.
- Exato. Sempre que há uma pré venda publica (são cada vez menos os vinhos que chegam à pré venda publica) há a hipótese de alguém se fazer patrono. 

- Cool... Mas... se cada vez fazes menos vendas publicas... quer dizer que não tens interesse em criar novos patronos?
- Não. São cada vez menos os vinhos em que faço pré venda publica, mas como cada vez tenho mais referências, uso sobretudo os novos vinhos para isso e deixo as outras para pré vendas exclusivas.

- Espera lá. Mas eu agora estou a ler isto e fiquei com interesse em ser patrono. Tenho de esperar pela próxima pré venda?
- Não. Há Outra forma de entrada.

- Qual?
- Compras-me duas caixas (12 garrafas) de qualquer vinho do stock, ou um mix se quiseres e passas a ser patrono de pleno direito.

- Mas isso é muito vinho... não fazes a coisa por menos?
- Não posso. Repara. Quando compras um vinho que ninguém conhece, sobretudo quando é uma referência nova, corres o risco de não gostar e mandares o dinheiro investido para o ralo. Mas quando estás a comprar vinho que podes já er provado, do qual já tens critica e opinião publicada, o risco já é bem menor. 

- Entendo.
- Foi a forma que encontrei de distribuir justiça na atribuição do estatuto. É perfeita? Certamente que não, mas parece-me que é justa o suficiente para que assim continue.

- Eh pá... fiquei com vontade de integrar esse clube, mais não seja pelos preços especiais.
- Há muita coisa planeada para este clube e para este projeto, assim consigamos passar a "fase de rebentação" que nos dá acesso ao mar aberto. Vais ver... temos uma história bonita... mas o mais bonito ainda não está escrito.

- Onde assino?
-😅😂




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