“Confesiones de un Sommelier” by David Seija
Sabem o que me levou a pegar neste livro?
O David foi um dos sommelier do El Bulli e achei que ia ler fabulosas histórias e momentos passados nesse mítico restaurante. Encontrei algo muito diferente. E, no fim, melhor.
Se vão à espera de conhecer os segredos do Adrià ou saber quem bebeu a garrafa mais cara da história do restaurante, esqueçam. Este livro não é para vós!
Gostei muito da forma direta, sem rodeios nem floreados, com que escreve. Diz o que tem a dizer, como quem desabafa com um amigo ao balcão, mostrando os tiques, os vícios e as ilusões deste meio. Saliento a frequente barreira entre cozinha e sala, como tantas vezes parecem dois mundos: água e azeite. Enologia e viticultura. Ler aquilo foi como ouvir alguém finalmente dizer em voz alta o que tantos sentem, mas poucos admitem.
Depois há o lado mais íntimo: a luta contra as dependências, os momentos duros, a fragilidade. O David despe-se por completo. É impossível não respeitar essa coragem.
Não é só um livro sobre pratos e vinhos. É sobre a procura de equilíbrio, sobre identidade, e sobre os perigos de se perder o norte enquanto se tenta ser melhor.
E não resisto a partilhar uma das passagens que mais me cativou. às páginas tantas [pp250] fala da falácia da seriedade, idoneidade e qualidade associadas à titularidade das vinhas. Pensei que era só por cá que, para se fazer vinho, era preciso ter, no mínimo, um título nobiliárquico. Afinal, em Espanha também há quem viva da mesma ilusão. Ri alto e senti-me compreendido.
Confesiones de un Sommelier é daqueles livros que se lê num sopro, mas que fica cá dentro por muito tempo.
Parabéns, David. “Ganda” livro!
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