Fernão Pires 2024
Este vinho é uma base de espumante frustrada, sabiam?
É tudo aquilo que não pretendia ser, mas também a expressão máxima do princípio fundador deste projeto. Confuso? Eu explico.
Tudo isto começou, também, porque queria testar a hipótese de que os vinhos ganham um perfil mais próximo do meu conceito de “perfeita expressão da uva e do terroir” quando colhemos a uva com base na acidez e não no açúcar ou nos taninos. A casta em que decidi testar esta hipótese foi precisamente o Fernão Pires, porque sempre detestei o perfil sobremaduro e tânico dos vinhos que normalmente origina.
A história não interessa aqui, mas, como sabem, o primeiro vinho Hugo Mendes Lisboa, em 2016, acabou por ser um lote de Fernão Pires e Arinto, e não simplesmente de Fernão Pires.
Obviamente, pensei que também tinha de ter um espumante no portfólio, mas, como todos os meus clientes da altura tinham espumantes de Arinto, não havia mais nada ali que quisesse testar ou melhorar, achei que não fazia sentido fazer mais um com a mesma casta. Escolhi o Fernão Pires. Isolei 1000 litros e passei a levar amostras para feiras e eventos como complemento formativo, afinal, se estava a fazer algo “único”, era fundamental mostrar.
A malta gostou, a Sara aprovou e os aromas, ainda que leves e reduzidos, fizeram torcer o nariz a este fiel e religioso praticante do método clássico. É bom, mas não tem a força de uma base espumante. Acabei por fazer dele um vinho especial, inserido na linha formativa, juntamente com o Castelão e o Vital, que sai apenas nos anos em que conseguimos apanhar a uva no momento exacto. Com esta casta, neste perfil, é praticamente ao dia.
Curiosamente, não sei se por ser uma casta com baixa popularidade e elevados preconceitos, ou porque os envio para avaliação crítica cedo demais (possivelmente este é o motivo principal), é um vinho que tem sempre pontuações contidas e, sobretudo, recomendações de consumo muito curtas. Percebo, mas ficarão surpreendidos quando, em 2028, fizermos uma vertical desta referência. Aguardem com expectativa.
Cada vez tenho mais provas de que, quase nunca, é pela casta, mas sobretudo pelo momento em que decidimos apanhar as uvas. Este é o vinho que mais me tem comprovado isso.




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